Corinthians desiste de Biel: entenda os motivos da negociação falha

Na tarde desta sexta-feira, 4 de julho, o Corinthians oficializou o encerramento das tratativas com o Sporting, de Portugal, pela contratação do atacante Biel. A negociação, que vinha se arrastando nos bastidores nas últimas semanas, não evoluiu conforme o planejado pelo clube paulista, que optou por recuar e desistir da transação.

Segundo nota divulgada pelo próprio Timão, as conversas esbarraram na inflexibilidade do clube português, que recusou duas propostas feitas pelo alvinegro e se mostrou irredutível nas exigências. O Corinthians chegou a propor inicialmente um empréstimo, e depois a compra parcial dos direitos econômicos, mas os valores pedidos pelo Sporting estavam fora da realidade orçamentária do clube de Parque São Jorge.

Timão e os bastidores da tentativa por Biel

A busca por reforçar o ataque foi uma das prioridades da diretoria corintiana para a janela de transferências de meio de temporada. A escolha por Biel — um atacante brasileiro em busca de mais minutos em campo no futebol europeu — parecia promissora. Revelado no Brasil e com passagens por clubes importantes, o jogador estava no radar da comissão técnica há algumas semanas, especialmente após sua queda de rendimento e espaço no elenco do Sporting.

O grande entrave, contudo, foi o modelo de negócio. O Sporting desejava uma venda definitiva, estipulando o preço de sete milhões de euros — o equivalente a cerca de R$ 41 milhões na cotação atual. O Corinthians, que vive um momento de reestruturação financeira, julgou o investimento como inviável. Em momento algum, segundo o clube paulista, houve disposição para pagar esse valor.

É bom lembrar que essa não é a primeira novela de mercado envolvendo o Corinthians nesta temporada. Já aconteceram episódios parecidos com outros atletas, o que tem levantado questionamentos por parte da torcida e até da imprensa especializada quanto à clareza dos planejamentos do departamento de futebol.

Perfil de Biel: o que atraiu o Corinthians?

Gabriel Teixeira, mais conhecido como Biel, é um atacante formado nas categorias de base do Fluminense, com passagens marcantes no futebol nacional antes de partir rumo à Europa. Ágil, bom no um contra um e com uma canhota poderosa, Biel chamou a atenção em sua passagem pelo futebol brasileiro, especialmente durante o Brasileirão de 2021, quando chegou a ser elogiado até por comentaristas mais exigentes.

No Sporting, no entanto, o cenário foi diferente. Apesar das expectativas iniciais, o atacante não conseguiu emplacar uma sequência consistente. Com a forte concorrência no setor ofensivo do clube português, ficou escanteado nas escolhas do técnico Rubén Amorim — fator que motivou o desejo de retorno ao futebol brasileiro.

Aos 23 anos, Biel seguia como um nome com boa margem de evolução, o que justificava o interesse inicial do Timão, que procurava uma reposição para o setor ofensivo visando o planejamento do segundo semestre, incluindo o Brasileirão, a Sul-Americana e, possivelmente, a Copa do Brasil.

O recado nos bastidores: Corinthians traça novo foco

O recuo na negociação por Biel não representa apenas uma negativa. Nos corredores do Parque São Jorge, a decisão foi lida como uma sinalização clara do clube de que não fará nenhum tipo de loucura financeira para reforçar o elenco — algo que agrada parte da torcida mais cautelosa, mas que também acirra as críticas dos mais exigentes, que cobram contratações de impacto para elevar o patamar do elenco.

Com isso, a diretoria corintiana provavelmente volta ao mercado em busca de um novo nome para a posição. A ideia é buscar uma alternativa mais acessível, que atenda às exigências financeiras e técnicas do clube. Internamente, há o consenso de que a equipe precisa de mais profundidade ofensiva, já que alguns nomes do atual elenco têm oscilado demais na temporada.

Vale destacar que essa postura mais prudente nas negociações representa uma ruptura com padrões de janelas passadas, quando o Corinthians chegou a realizar grandes investimentos que nem sempre tiveram retorno técnico proporcional. Recentemente, por exemplo, a contratação milionária de Roger Guedes é frequentemente usada como exemplo de acerto — mas também há casos frustrantes, como Luan, contratado em 2020 a peso de ouro e que acabou virando um dos maiores pesadelos do clube.

Público dividido: torcida crítica versus cautela financeira

O anúncio do fim das conversas sobre Biel gerou reações diversas entre os torcedores. Nas redes sociais, muitos questionaram a postura do clube, alegando falta de ambição ou lentidão nas tratativas. Por outro lado, uma ala da torcida, especialmente os mais atentos à realidade financeira do Timão, concordaram com a decisão do clube de não ceder à pressão do mercado.

Essa divisão reflete uma tensão recorrente no futebol brasileiro: o desejo por resultados imediatos versus a construção de uma base sólida e financeiramente saudável. O Corinthians, que há poucos anos chegou a flertar com sérias dificuldades econômicas e agora tenta reconstruir sua saúde financeira, vive justamente esse dilema.

Aliás, internamente já se discute até mesmo a reformulação da forma como o clube conduz as prospecções. Ao que tudo indica, a ideia é que, daqui em diante, sejam priorizadas negociações com jogadores com potencial de revenda e que cheguem com custo reduzido, em especial atletas da América do Sul ou apostas de clubes menores que despertem o interesse do scouting.

Biel pode retornar ao Brasil por outro caminho?

Embora o Corinthians tenha descartado um acerto, o nome de Biel segue no radar do futebol brasileiro. Com um perfil que agrada a clubes que procuram jogadores versáteis e jovens, não seria surpresa vê-lo desembarcando no Brasil por outro caminho ainda nesta janela.

Alguns rumores dão conta de que clubes como Bahia, Botafogo e até o Internacional chegaram a consultar as condições do atacante antes mesmo do Corinthians avançar nas negociações. Agora, com o time paulista fora da jogada, esses clubes podem voltar à carga — isso, claro, se estiverem dispostos a encarar as exigências do Sporting.

Nesse sentido, a decisão do Corinthians também pode acabar funcionando como um termômetro: se outros clubes brasileiros também considerarem a pedida do Sporting fora da realidade, é possível que o clube português repense sua posição — ou mantenha Biel no elenco, mesmo sem espaço.

E agora, Timão?

Do ponto de vista estratégico, o Timão segue em busca de reforços que possam qualificar o elenco ainda em 2025. A janela de transferências, que segue aberta por mais algumas semanas, pode trazer novidades — e há expectativa de que o clube faça ao menos duas contratações no setor ofensivo.

Além disso, a diretoria segue monitorando o desempenho de jovens da base, como Wesley e Pedrinho, que têm ganhado moral com a torcida e podem ser soluções caseiras se não houver tempo hábil para fechar novos nomes do mercado.

Com competições importantes no horizonte, como a fase final da Copa Sul-Americana e a reta decisiva do Campeonato Brasileiro, o clube sabe da importância de manter um elenco competitivo. A boa notícia é que, mesmo com poucos reforços até agora, o time tem mostrado crescimento sob o comando técnico atual — e a expectativa da Fiel é que isso se traduza em resultados.

Considerações finais

A desistência do Corinthians em contratar Biel mostra como o clube está amadurecendo nas suas decisões extracampo. Por mais que a torcida queira grandes nomes ostentando o manto alvinegro, é preciso que o clube seja responsável financeiramente para evitar rombos que comprometam o futuro.

Nesse caso, dizer não não é fraqueza — é lucidez. E, no fim das contas, reforços nem sempre são sinônimo de solução. Melhor trabalhar com inteligência, apostar em planejamento e, aí sim, dar os passos certos em direção a novos títulos.